Já lá vai algum tempo desde a última vez que visitei Aveiro por isso aproveitei a minha ida a Portugal no mês de Outubro para o fazer. Uma das coisas que gostaria de fazer era a visita às salinas por isso marquei previamente com a loja Zeca de Aveiro a visita às salinas, viagem de moliceiro e prova de sabores sendo o custo de 17€.
Sempre que posso viajo de comboio por ser mais cómodo e económico. A viagem começou às 8.09 da manhã. Por 7.50€ adquiri um bilhete de ida e volta do Porto Campanhã para Aveiro. Uma hora depois chegava ao meu destino. A minha primeira paragem foi a Estação de Aveiro. Esta bela estação construida em 1916 está decorada com azulejos que retratam a vida das gentes de Aveiro bem como de outros locais de Portugal. Espreitem aqui algumas das fotos que recolhi neste local.
Seguindo a Avenida Dr Lourenço Peixinho (em frente à estação) chegamos ao coração da cidade onde se encontram os famosos barcos Moliceiros. Estes barcos eram usados para transportar o moliço, uma espécie de alga usada para fertilizar os campos agrícolas o que os tornava bastante produtivos e férteis. Hoje em dia estes barcos são usados para transportar os turistas pelos quatro canais que atravessam a cidade de Aveiro: Canal de São Roque, Canal Central, Canal das Pirâmides and Canal do Cojo.
Ao longo da travessia dos canais, O Sr. António (o meu guia) providenciou informação bastante útil para perceber como esta cidade costumava ser no passado e a sua evolução através dos tempos.
Aprendi sobre a antiga fábrica de cerâmica atualmente um centro de congressos, sobre a arquitetura da cidade (os belos edifícios de Arte Nova), a ponte com seis entradas e seis saídas (única na Península Ibérica), o ouro branco (sal) e a sua importância para o desenvolvimento económico da cidade, as Salinas (onde o sal é produzido e extraído) e muito mais. O Sr. António agradavelmente respondeu às minhas questões e ainda tornou a viagem mais agradável ao colocar uma música da fadista Ana Moura.
A minha próxima paragem foram as Salinas Cale do Oiro onde fui recebida por Mariana Alves. Durante a minha visita guiada fiquei a saber que são necessários três elementos para se produzir sal: calor e vento, para se dar a evaporação e água salgada. Nas salinas de Aveiro o sal é apenas produzido durante os meses de Verão (de Junho a Setembro) enquanto no Algarve o sal é produzido durante todo o ano já que as condições climatéricas são mais favoráveis à produção do sal devido ao calor.
A importância do sal remonta ao tempo dos Romanos quando o sal era usado como moeda uma vez que o pagamento aos soldados romanos era feita em sal. Além disso, já imaginou como seria ter de comer toda a sua comida sem sal?
A água dos canais que atravessam a cidade é conhecida por Ria de Aveiro, a razão pela qual se chama ria e não rio tem a ver com o facto de resultar de uma junção da água salgada do Oceano Atlântico e da água doce proveniente do rio Vouga. Durante os anos 60 existiam 270 salinas, mas nos dias de hoje apenas restam nove. A razão para tão drástica redução está relacionada com o facto de antigamente quando os barcos seguiam para a pesca do peixe e do famoso bacalhau, a sua conservação era feita com sal mas desde que foram introduzidas as câmaras frigoríficas o sal deixou de ser necessário; além disso as pessoas deixaram de ir comprar o sal diretamente às salinas e passaram a adquiri-lo nos supermercados. Tudo isto fez com que a produção do sal entrasse em declínio.
Nestas salinas são produzidos três tipos de sal: sal grosso, a flor do sal (bastante mais fino, puro e cristalino) e a licórnia (uma planta usada por muitos chefes de cozinha que na preparação das suas receitas usam esta planta em substituição do sal).
Atualmente as salinas oferecem no Verão outros serviços como é o caso dos banhos nas piscinas salgadas para fins terapêuticos e aparentemente para retirar as más energias e o mau olhado. É assim possível ter uma experiência idêntica à do Mar Morto uma vez que devido ao facto de a água ser tão salgada as pessoas não vão ao fundo, flutuam!
Durante a minha visita às salinas tive ainda a oportunidade de conhecer um dos dois marnotos, o Sr Manuel Gandarinha, que ainda trabalha na extração do sal. É uma pena que os nossos jovens não se sintam atraídos para seguir as pisadas e ensinamentos dos mais velhos e com isto se percam tradições tão importantes que fazem parte da nossa história.
As salinas são ainda um excelente espaço para observação de aves migratórias.
Para mim foi sem dúvida um dos pontos altos da minha visita a Aveiro.
No meu regresso à cidade fui recolhendo mais algumas fotos desta bela cidade.
A visita não ficava completa sem a prova de sabores. Desta prova faziam parte as famosas Raivas de Aveiro, um biscoito tradicional que aparentemente era feito pelas freiras do convento e o seu nome deve-se ao facto de a massa ser tão fina que facilmente quebra, por isso a raiva que provocava quando tal acontecia; os famosos ovos moles feitos de gema de ovo, açucar e hóstia; biscoites de baunilha; tudo isto acompanhado por um licor que as mulheres dos pescadores lhes davam pela manhã antes destes saírem para as suas atividades e que os mantinha quentes nos dias frios.
Outro dos pontos altos da minha visita foi o Museu de Aveiro, construído no século XV foi no passado um convento que acolhia as freiras que viviam uma vida de reclusão do mundo exterior e devotavam as suas vidas a Deus. Uma das mais famosas residentes foi a Princesa Santa Joana, filha do rei D. Afonso V. Terá a oportunidade de aprender mais sobre a vida desta santa e da sua importância para a cidade. Neste sumptuoso museu pode apreciar a magnífica talha dourada bem como toda a azulejaria que reveste as paredes de parte do museu e da capela. A capela barroca vai deixá-lo de boca aberta!
Junto ao Museu pode ainda visitar a bonita Catedral de Aveiro também construída no mesmo século e em estilo barroco.
Aproveite para percorrer as belas ruas desta cidade e admirar a famosa calçada portuguesa, as ruas pitorescas e mais alguns monumentos como a Igreja da Misericórdia toda revestida a azulejo.
Admire as quatro estátuas das pontes.
Visite o Mercado do Peixe onde diariamente tem ao dispor peixe fresco, fruta e vegetais.
Atraída pelo cheiro não consegui resistir a entrar numa loja de comércio tradicional e comprar café. Adoro estas lojas, a decoração, o tipo de produtos, o atendimento personalizado, os cheiros, sinto-me como se tivesse sido transportada no tempo, simplesmente adoro!
Antes de fazer a viagem de regresso para a estação ainda houve tempo para ir à confeitaria mais antiga de ovos moles da ciade, a Confeitaria Peixinho e comprar uma caixa de ovos moles para partilhar com a minha família.
Se estiver em Portugal não deixe de visitar esta bela cidade.